terça-feira, 24 de maio de 2011

Educação para a vida

Dia desses, precisei explicar para minha filha de 11 anos o porquê do meu gosto em chupar laranjas pequenas, as menores. Enquanto as pessoas no supermercado escolhem sempre as grandes, eu sempre escolho as pequeninas as que ninguém quer, pois para mim elas têm um sabor diferente, são mais deliciosas. Eu sempre chupo laranja depois do jantar. Como chego tarde em casa, minha filha às vezes me acompanha nesse ritual.

O fato é que quando eu era criança meu pai sempre sentava do meu lado, descascava as laranjas com todo o cuidado para não ferir o gomo e, em seguida, dava uma para mim e uma para cada um dos meus irmãos, todos mais jovens que eu. Era um momento de contar histórias, de risadas e de partilha. Nós adorávamos, as laranjas eram tão doces e saborosas que chupávamos muitas. Papai, pacientemente, descascava-as para nós, às vezes ele precisava se ausentar e sempre as deixava descascadas e cortadas, tamanho era o cuidado para que não nos cortássemos, afinal éramos todos crianças. Meu pai é agricultor e, na época, há uns 35 anos, ele cultivava laranjas. Ele vendia em grande quantidade. Como as pequenas não tinham saída, ele reservava-as para nós. Fiquei emocionada quando relatei o fato à minha filha.

Assistindo a uma aula sobre Metodologia do Ensino Superior, o professor indagou a turma sobre qual a diferença entre ser professor e ser educador. Retornei à minha infância ao lembrar das laranjas...

Bem, ser educador é ser inesquecível, é fazer a diferença, é fazer com que o conteúdo transmitido ao aluno tenha significado, é não só transmitir e repassar conhecimentos, mas levar em consideração o cotidiano e a bagagem cultural do aluno. Ser educador é marcar positivamente o aluno para sempre, é educar com amor, com valores, respeito, é ensinar com postura ética. Ser educador é ir além do conteúdo e do conhecimento técnico, é ensinar bem, planejar suas aulas, utilizar diferentes estratégias na apresentação dos conteúdos, aliando também diferentes e coerentes avaliações. O verdadeiro educador permite o diálogo, a troca, a aproximação com o educando.

Ser educador é ensinar aliando a teoria à prática, trabalhar o conteúdo de forma contextualizada, facilitando o entendimento dos alunos. É aquele que ensina a autonomia, o desenvolver das potencialidades, inerentes às individualidades de cada aprendiz.

O verdadeiro educador é aquele que conduz o aprendiz nos caminhos do conhecimento, levando-o a aprender a conhecer, isto é a adquirir os instrumentos de compreensão, do seu meio, da sua realidade e de seu mundo, no qual o aprendiz possa aprender a fazer para poder agir sobre o meio em que vive, que ele possa aprender a viver junto com os outros, a fim de participar, interagir com os seus, em todas as atividades humanas, e nessa condição aprender a ser, com o objetivo de se formar o homem em sua totalidade.

O verdadeiro educador atualiza-se permanentemente, conhece e utiliza de forma eficaz as novas tecnologias, proporcionando ao educando uma melhor compreensão do seu papel enquanto cidadão crítico.

Mas, afinal, qual a relação das laranjas do início do texto com o ser educador? Bem, meu pai, no seu fazer inconsciente, com carinho e dedicação, deixou impresso em mim algo que poderia ter passado despercebido, o amor pelo que se faz, o exemplo de ser humano.

O verdadeiro educador deve ser um referencial de vida para os seus educandos, assim como o meu pai foi e é para mim.

Texto de Elizabeth Magno, professora e coordenadora pedagógica em Macapá, enviado ao Jornal Virtual. E-mail:profelizabetmagno@gmail.com
(Colaboração Claudia D.)

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Espaço do Professor- Tem uns truta aí, meu!

Neste blog, o espaço também é seu, professor!
Seguimos com um texto muito interessante enviado por Claudia Deweese.
Obrigada professora Claudia!!!! Continue fazendo deste espaço o seu também!
Boa leitura!


Tem uns truta aí, meu!

Há alguns anos, um holandês me pediu aulas de Língua Portuguesa. Aceitei o desafio mesmo sabendo que teríamos problemas, pois o português dele era precário e o meu inglês era do tipo “nóis vai, nóis fumo”. Em meio a livros, dicionários, gestos e risos, o estrangeiro Walter me revelou que durante as viagens que fez pelo Brasil notou que, não importava a distância, todos falavam português. Para ele, isso era no mínimo surpreendente, uma vez que em seu país a distância de 300 km era suficiente para impedir a comunicação entre os habitantes das regiões devido aos diversos dialetos existentes. Mas não demorou muito para que ele percebesse que havia diferenças entre a língua que norteava nossas aulas e aquela que ouvia nas ruas. Tive, naquela circunstância, de lhe apresentar duas variantes da língua portuguesa: a dos livros – “Você está bem?”, e a das ruas – “Cê tá bom?”

Que crueldade! Mas ele não está só. Eu também me vejo na obrigação de ser poliglota da minha própria língua. Por diversas vezes, vejo nas redações de meus alunos outro código que custo a decifrar. É um tal de “tbm, naum, vc, pq, aew, eh mt", que dificultam a minha leitura. Em outras ocasiões, é na oralidade que tenho a impressão de ser um E.T. em terras estranhas. Ouço “tem uns trutas aí, meu”, “mó legal”, “vamos colar em algum lugar?”.

Essas várias línguas são faladas por grupos distintos: a língua das ruas do bairro tal ou da cidade tal, da profissão tal, do grupo dos skatistas, do grupo que não frequentou escola, o de pessoas mais velhas, dos que usam MSN etc. A impressão que se tem é que, com o passar do tempo, ninguém mais vai se entender!... Será mesmo?

Duas das muitas funções da escola são respeitar as várias línguas que o aluno traz em sua bagagem e ensinar outras, entre elas a língua portuguesa padrão. Embora com certa dificuldade, é ela que nos permite decifrar as outras. Viva e em constante mudança, ela nos dá a possibilidade de comunicação entre o povo daqui e o dali, entre pessoas de uma tribo e de outra, entre pessoas de gerações diferentes.

Uma terceira função da escola é ensinar os discentes a usar a língua padrão como exercício da cidadania. O que significa adequá-la às diversas situações de fala. Afinal, ninguém deve dizer em uma entrevista de emprego “tem uns truta aí, mano!”, ou “mó legal, esse troço”.

Ainda bem que existe a língua padrão e aqueles que a ensinam como e quando usá-la. Já imaginou a dificuldade que o Walter teria em aprender nossa língua se não tivesse uma língua mater que o orientasse?

Texto da professora Grace de Castro Gonçalves enviado ao Jornal Virtual.
E-mail: gracegonçalves2004@yahoo.com.br
Blog: http://didaticapro.blogspot.com/

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