quinta-feira, 5 de maio de 2011

Espaço do Professor- Tem uns truta aí, meu!

Neste blog, o espaço também é seu, professor!
Seguimos com um texto muito interessante enviado por Claudia Deweese.
Obrigada professora Claudia!!!! Continue fazendo deste espaço o seu também!
Boa leitura!


Tem uns truta aí, meu!

Há alguns anos, um holandês me pediu aulas de Língua Portuguesa. Aceitei o desafio mesmo sabendo que teríamos problemas, pois o português dele era precário e o meu inglês era do tipo “nóis vai, nóis fumo”. Em meio a livros, dicionários, gestos e risos, o estrangeiro Walter me revelou que durante as viagens que fez pelo Brasil notou que, não importava a distância, todos falavam português. Para ele, isso era no mínimo surpreendente, uma vez que em seu país a distância de 300 km era suficiente para impedir a comunicação entre os habitantes das regiões devido aos diversos dialetos existentes. Mas não demorou muito para que ele percebesse que havia diferenças entre a língua que norteava nossas aulas e aquela que ouvia nas ruas. Tive, naquela circunstância, de lhe apresentar duas variantes da língua portuguesa: a dos livros – “Você está bem?”, e a das ruas – “Cê tá bom?”

Que crueldade! Mas ele não está só. Eu também me vejo na obrigação de ser poliglota da minha própria língua. Por diversas vezes, vejo nas redações de meus alunos outro código que custo a decifrar. É um tal de “tbm, naum, vc, pq, aew, eh mt", que dificultam a minha leitura. Em outras ocasiões, é na oralidade que tenho a impressão de ser um E.T. em terras estranhas. Ouço “tem uns trutas aí, meu”, “mó legal”, “vamos colar em algum lugar?”.

Essas várias línguas são faladas por grupos distintos: a língua das ruas do bairro tal ou da cidade tal, da profissão tal, do grupo dos skatistas, do grupo que não frequentou escola, o de pessoas mais velhas, dos que usam MSN etc. A impressão que se tem é que, com o passar do tempo, ninguém mais vai se entender!... Será mesmo?

Duas das muitas funções da escola são respeitar as várias línguas que o aluno traz em sua bagagem e ensinar outras, entre elas a língua portuguesa padrão. Embora com certa dificuldade, é ela que nos permite decifrar as outras. Viva e em constante mudança, ela nos dá a possibilidade de comunicação entre o povo daqui e o dali, entre pessoas de uma tribo e de outra, entre pessoas de gerações diferentes.

Uma terceira função da escola é ensinar os discentes a usar a língua padrão como exercício da cidadania. O que significa adequá-la às diversas situações de fala. Afinal, ninguém deve dizer em uma entrevista de emprego “tem uns truta aí, mano!”, ou “mó legal, esse troço”.

Ainda bem que existe a língua padrão e aqueles que a ensinam como e quando usá-la. Já imaginou a dificuldade que o Walter teria em aprender nossa língua se não tivesse uma língua mater que o orientasse?

Texto da professora Grace de Castro Gonçalves enviado ao Jornal Virtual.
E-mail: gracegonçalves2004@yahoo.com.br
Blog: http://didaticapro.blogspot.com/

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